sábado, 10 de outubro de 2009

O Nobel da Retórica e da Pequenez


É uma desmoralização a entrega do Nobel da Paz para os discursos de bom-mocismo do presidente estadunidense, Barack Obama. No mínimo, um disparate de péssimo gosto! Com apenas alguns meses sentado na cadeira principal da Casa Branca, Obama é mais conhecido por ser um pop-star na política internacional do que seus atos no cargo como presidente. De bom orador e conquistador de simpatias pelo mundo, Obama ainda é uma promessa e cada vez mais distante de materializar seu discurso.


Entretanto, poucas horas após ser notificado do Nobel, Obama já se reunia com seus assessores de guerra estudando a ampliação de tropas no Afeganistão. A prometida retirada das tropas no Iraque está muito longe de ser concretizada. De concreto mesmo pode ser contabilizado apenas alguns avanços como foi o caso do fechamento da prisão da barbárie de Guantánamo, em Cuba. O resto de sua administração continua sendo uma retumbante retórica e cartas de boas intenções.


É possível inferir que seria o agraciamento do Nobel da Paz como sendo um mimoso prêmio de consolação apenas uma semana depois que Obama não ter obtido êxito em trazer os Jogos Olímpicos de 2016 para a cidade de Chicago, onde iniciou sua carreira política? Internamente, Obama sofreu várias críticas por ter viajado a Copenhagen e voltado de mãos vazias. Para a grande maioria dos policy makers estadunidenses, tal como a mítica aparição da Virgem Maria, apenas bastaria o vulto de Obama para angariar a concessão olímpica. A concessão dos Jogos Olímpicos é acima de tudo um gesto político. Em época de queda de popularidade na novata administração Obama, qualquer fato novo é importante para construir uma reação perante a opinião pública estadunidense. Especulação à parte, soa no mínimo estranho e prematuro a premiação de Obama.


Vale lembrar que o Nobel da Paz é sempre uma premiação política de afeto e simpatia de seu Comitê. Segundo o Comitê do Nobel norueguês, a justificativa para a escolha é o apoio que o presidente estadunidense “vem tentado estimular precisamente esta política internacional e estas atitudes das quais Obama é atualmente o principal porta-voz mundial” (Agência France Presse/Folha). Um bom-mocismo esvaziado agrada o Conselho do Nobel que há dois anos, concedeu o mesmo prêmio para o ex-vice-presidente estadunidense, Al Gore, em 2007. Na ocasião, o bom-moço Gore compilou um livro-catástrofe sobre mudanças climáticas e posteriormente transformado em filme-documentário e, para variar, ganhou o Oscar de melhor documentário em 2007. Um curioso cinismo neste discurso de bem-aventurado ativismo ecológico é como se Gore nunca tivesse ocupado um cargo tão importante como foi a vice-presidência da potência estadunidense! Em sua gestão de dois mandatos ao lado do ex-presidente Bill Clinton, a “verdade inconveniente” é que os Estados Unidos se esquivaram de assinar quaisquer tratados de diminuição de emissão de poluentes na atmosfera. Para variar, os discursos de heroísmos hollywoodianos soam cínicos, ridículos e patéticos. Tal como insanidade tirânica de Nero na Roma Antiga relatada pelo romano Plínio (23 d.C.- 79 d.C.), aos olhos do mundo, tais estadunidenses adoram os holofotes onde posam como robustos e astutos heróis do planeta o qual eles mesmos incendeiam indiscriminadamente.


Sem novidade! É indefensável que o Comitê do Nobel concede sua premiação prioritariamente para figuras estadunidenses e européias por osmose. Assim como grande parte dos próprios estadunidenses, aparentemente o Comitê considera plenamente que há mais massa encefálica no interior dos crânios dos vizinhos da América do Norte e Europa Ocidental do que os demais seres humanos no planeta! Paradoxalmente, o Comitê do Nobel da Paz dá um fantástico aval moral para que Obama fique com seus idílicos discursos de bom-mocismo, mas na alcova das permissivas práticas de beligerância estadunidense continue dando carta branca para seus generais fascistas da guerra.


Laureando Obama, o Comitê do Nobel não teve a coragem de sair da pequenez política que tanto poderia contribuir na construção efetiva de um mundo melhor e sem o fantasma permanente de conflitos promovidos pela volúpia imperialista.


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Democracia do Aterro Sanitário: O bizarro mundo das siglas partidárias e os nutrientes da barbárie


O que teria em comum o presidente da FIESP, um jogador campeão do mundo de futebol, uma socialite e a Mulher Melão? Não considerando piadas jocosas com o seleto grupo, eles possuem em comum o desejo de ser aventurarem na política brigando por uma parcela dos votos nas eleições do próximo ano.



Candidatos bizarros não é novidade nas disputas eleitorais. A cada eleição, uma enxurrada de candidatos disputa a atenção do leitor das mais estapafúrdias formas. E a cada nova eleição, eclodem os pára-quedistas de plantão, figurinhas carimbadas da mídia ou salvadores da pátria escondendo “capivaras” quilométricas. Nesta fauna de seres eleitoreiros, o discurso político e a construção ideológica dos partidos são apenas souvenires descartáveis, risíveis e inúteis. A política é tratada com uma garota que comercializa o corpo mediante pagamento para posteriormente ser jogada fora. Mediante a barganha, o gozo se torna flácido e o amor impossível. Para discutir um pouco mais sobre os meandros políticos do processo eleitoral, vejamos umas espécies da fauna que habitará o cenário brasileiro de 2010.



“Alugam-se siglas”. Soa risível e patético a filiação do presidente da Federação das Indútrias do Estado de São Paulo (FIESP), Paulo Scaf, em um partido que se traz o termo “socialista” em seu nome, PSB. Por um palanque e um partido, Scaf topa qualquer coisa, até mesmo a sigla de um suposto partido socialista. Jogando o anacronismo ideológico pela janela, seu projeto é sair da torre de marfim da FIESP situada na empinada Avenida Paulista para deslanchar sua carreira política se postulando como o “empresário-educador”. Com a marolinha do discurso que preside o sistema de educação SESI-SENAI, Scaf tentará convencer os paulistas que ele será um bom governador. A propaganda pessoal do “empresário-educador” poderá ser vista ao longo de todo o site da FIESP, em anúncios da televisão de sinal aberto e também nos spots da TV Minuto do Metro de SP. Campanha eleitoral? Não, informe publicitário... Eufemismos, eufemismos!



Lamentável e inoportuna foi à filiação do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim ao PT. Estando à frente do processo na maior crise diplomática da história recente do país, é uma ação totalmente desnecessária além de partidarizar inutilmente o debate das relações internacionais. No camaleônico Partido dos Trabalhadores, nas últimas horas, ocorreu mais filiação do patronato na legenda. Agora o casal Ivo e Eleonora Rosset, donos da Valisère, engrossam a fileira do partido. Já o banqueiro e presidente do Banco Central, Henrique Meirelles é o novo filiado do PMDB para o governo de Goiás. A lisura dos processos de trâmites entre cargos-chave na estrutura da administração pública e interesses partidários é tão cristalina quanto às águas do paulistano rio Tietê.



Aliás, os três grandes motes que corrói as péssimas gestões públicas brasileiras, saúde, educação e segurança, sempre estão no palanque de qualquer candidato a qualquer coisa. Até o tucano e o candidato a filósofo do mercado de livros de auto-ajuda, Gabriel Chalita, que foi outro desastre como secretário da Educação do companheiro tucano, o ex-governador Geraldo Alckmin em São Paulo. Chalita saiu do PSDB para o PSB, e claro, usará o verborrágico discurso da “Educação” visando uma vaga no Senado Federal. Haja repetição de tecla: Educação, Educação, Educação! Estaríamos com os mais elevados índices de qualidade na Educação de toda a Via Láctea se dependesse apenas de marolas fanfarronas dos discursos da politicagem sem escrúpulos!



No bote do Partido Verde que desce o Rio Madeira onde desembarcou Marina Silva com sua proposta do messianismo ecológico, também uma fauna começa a inchar a sigla. Para dentro do rótulo verde, entraram o empresário da Natura, Guilherme Leal, o presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, o presidente do Instituto Sócio-Ambiental Henrique Svirsky, o presidente do Moinho Brasil, Fernando Simões, a empresária e socialite Ana Paula Junqueira, o jurista José Afonso da Silva e Fernando Monteiro de Carvalho Garnero, do grupo Garnero. Ainda na balsa do PV, embarcou a fundadora da grife Daspu e diretora da ONG da Vida, Gabriela Leite, para uma vaga na Câmara dos Deputados. Para Leite, "Sempre tive uma vontadinha [de entrar na política]. Mas quem se filia tem que se dedicar". Realmente, uma mulher de visão estratégica para a política! Muitos capitalistas que faturam no bem lucrativo ecobusiness estão de olho na esteira eleitoral do discurso politicamente ecológico de Marina, candidata do PV a plantar árvores sentada na cadeira principal do Palácio do Planalto.



Cada leitor deve ter em mente algum nome bizarro que apareceu com o pires na mão sequioso por votos, sejam bem conhecidos ou completos anônimos. A fama pode atrair votos, mas não ajuda a agregar neurônios ou sensibilidade política. No páreo por um lugar ao sol nas eleições de 2010, estarão tetracampeões mundiais como Romário e Vampeta, além de dirigentes de clube. Os ex-jogadores Romário (PSB) e Edmundo (PP) buscarão ter mais sucesso nas urnas e não repetir o fracassado “ataque dos sonhos” que a dupla fez no Flamengo. Para o meio de campo, o PTB escalará o ex-jogador Vampeta e Marcelinho Carioca, o pé-de-anjo, que se filiou ao PSB. No campo da cartolagem, Andrés Sanches, presidente do Corinthians sairá dos bastidores pelo PT e o vice-presidente do Santo André, Romualdo Magro Júnior pelo PSB.



Para melhorar a sonoridade da política, a exemplo do cantor Frank Aguiar que se elegeu vice-prefeito numa vergonhosa e bizarra aliança feito com o PT para ganhar a prefeitura de São Bernardo do Campo (SP), estarão para animar a festa nas urnas pelo país no próximo ano, o cantores Elymar Santos (PP), Sérgio Reis (PR) e Simoni (PSB). Para dar um rebolado que tanto a política carece, a política nacional descobrirá os dotes da funkeira Renata Frossin, conhecida com o apetitoso nome de Mulher Melão, provavelmente desfilará seus atributos intelectuais na legenda do PMDB para alegria de muitos adolescentes e marmanjos que serão seus fieis cabos eleitorais em recinto fechado. E certamente para dar maior consistência de massa muscular na Câmara Federal, ninguém melhor que um gancho de direita do ex-boxeador baiano Acelino Freitas, o Popó, que entrou no ringue do PRB de sua cidade, além da sapiência intelectual do seu antigo colega de ofício, Maguila (PTB).



Da Política Federal ao inusitado estrelato, as urnas de São Paulo poderão receber os votos do delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que depois de zanzar por tantas siglas partidárias, pousou seu bom-mocismo no PC do B. Para finalizar este pequeno relato dos horrores das candidaturas a pleitearem o voto popular, PTB que um dia pertenceu a Getúlio Vargas, parece ter descoberto um brilhante sucessor getulista, a figura de suma sapiência política e ejaculador de pérolas acéfalas, o ex-BBB da Rede Globo, Kléber Bam Bam. Getúlio revira-se ininterruptamente em seu túmulo com tamanha insanidade!



Como as siglas não seguem ideologias e tampouco possuem compromisso com alguma a ética e a engajamento político, a situação tende a se tornar completamente anacrônica. Por exemplo, é possível perceber que no PSB, o “S” é de socializar interesses e salvaguardar nacos do poder no meio da feijoada de botequim que são as siglas políticas. A esmagadora maioria dos partidos políticos brasileiros se transformaram em siglas partidárias. Meros rótulos de um rentável balcão de negócios para atender uma clientela ávida por poder, dinheiro e interesses escusos. Política? Não, apenas negócios. E quanto à prometida “reforma política” votada pelo Congresso Nacional se transformou num ridículo arremedo de regras cuja mudança será deixar tudo como exatamente está. Quem em sã consciência quer largar as tetas encharcadas do leite de benesses do poder?



Muitas vezes confunde-se democracia com aterro sanitário e certamente tal equívoco acarreta conseqüências muito grave para a gestão da “coisa publica”. No zoológico da política, segmentos da população menos consciente do seu papel perante a sociedade tenderá a não fazer qualquer separação entre joio e trigo. Os meios de comunicação tende a reforçar que a construção política é como um jogo entre “espertos” e “otários” o qual a única lei é a da hostil selva. A corrupção se tornou uma função menor do inconsciente social de grande parte da população que não mais se indigna com a brutalidade das práticas de desvio do erário ou barbárie estampada na violência cotidiana. A indiferença é a pior doença que uma sociedade pode se acometida e ficar enferma até sua convalescia. Entretanto, o discurso da moral anti-corrupção não é transformador e tampouco visa ser instrumento de mudança social. De forma inusitada, recentemente os setores que ainda estão diametralmente opostos do espectro político verbalizam um discurso de combate à corrupção como totem da canonização política!



São importantes algumas ressalvas sobre tais figuras exóticas na política. Uma vez que algum destes pára-quedistas eleitoreiros consegue se eleito para uma representação popular, o mesmo se torna inócuo no meio político. Em geral, o eleitor que deposita seu voto em figuras caricaturais são pessoas alienadas, descomprometidas, ingênuas ou descrentes do processo político (sinais do prosaico “voto cacareco”). O exotismo do candidato chama atenção pela plumagem seja por fatores bizarros, seja por fatores sensacionalistas. Lembramos o exemplo do falecido e polêmico estilista Clodovil Hernandes que conseguiu ser eleito deputado pelas urnas paulistas para a atual legislatura da Câmara Federal com grande votação com um suvenir sigla partidária. O exotismo de sua personalidade e o surrealismo de sua campanha eleitoral numa sigla nanica se contrastava com a responsabilidade perante o cargo que ocuparia. Quando trocou de sigla partidária e a legenda o qual foi eleito ameaçou-lhe tirar a cadeira de deputado, na ocasião Clodovil esbravejou que ele seria “maior” do que qualquer partido! Mudou de sigla e manteve-se como deputado até seu falecimento. Sintomático: como deputado, Clodovil não apresentou nada de relevante para a sociedade brasileira, exceto polêmicas querelas banais e uma reforma suntuosa e exótica em seu gabinete na Câmara. Aliás, campanha eleitoral em geral é uma amálgama bizarra entre o espetáculo circense e a tragédia dos palcos.



A “macropolítica” brasileira se faz pautada nos interesses de uma burguesia nacional atrelada ao grande capital internacional. Engana-se escancaradamente que seja possível separar por algum processo químico política e economia. A economia real (Realpolitik) somente existe na esfera da Economia Política. Logo, a Realpolitik é feita pelos detentores do poder econômico que buscam pautar seus interesses arquitetados e atrelados a um núcleo de colaboradores comprometidos com um ideário de manutenção da vigência do status quo. O exotismo dos candidatos pouco ou nada influi na dinâmica de acumulação de renda e administração política. A democracia representativa é a ilusão política mais bem estruturada já feita pelo homem moderno. Todavia, a democracia política não representa a democracia econômica, ou seja, são mundos eqüidistantes e, em alguns casos, chega até mesmo serem imiscíveis. O que mais preocupa na consolidação democrática é a fragilidade dos seus órgãos representativos que podem por em risco toda a estrutura orgânica que modela um Estado-nação cujas premissas se baseiam no respeito dos teares democráticos.



Quando a cultura da bizarrice política avança no cenário político, se torna sintomático que as ideologias estão se fragilizando com o lastro da indiferença. Quando se aponta corriqueiramente na mídia as diversas “mortes” da ideologia, o objetivo é esterilizar qualquer fio condutor de esperança, pois segundo esta linha de raciocínio: a realidade é aquilo mesmo e ponto final. A não-ideologia é a ideologia do pragmatismo estéril com profundos traços de recalque. Em contrapartida, a acéfala barbárie ganha fôlego ao ser nutrir da apatia e inércia de uma sociedade.



A mercantilização de valores, crenças e sentimentos substituem no inconsciente coletivo quaisquer projetos de autonomia, confraternização e respeito humano. A banalização do sujeito como ator social fundamental recai na exortação da bizarrice política. Neste sentido, o conceito de sociedade se fragmenta e se dilui de forma muito perigosa para sua própria existência como construção social. Nas velas do hiperconsumo, indiferença, desesperança e angústia, a sociedade veleja por um anacrônico modelo constituído de um mero agregado de pessoas e dispersadas em nichos cujos indivíduos lutarão entre si numa guerra fratricida. Eis uma das faces mais característica da barbárie: a famigerada batalha de todos contra todos sem nenhum vencedor onde a razão, o amor e solidariedade são elementos obsoletos.



TRUMP NÃO FOI UM (NOVO) ACIDENTE DA HISTÓRIA. FOI UMA ESCOLHA!

  Quase todas as tentativas de explicação que surgem do campo de uma Esquerda, magnetizada pelo identitarismo, é de uma infantilidade atroz,...