terça-feira, 7 de março de 2023

"MUSEU DAS FAVELAS": QUANDO A PERVERSÃO FETICHISTA IDENTITÁRIA NÃO TEM LIMITE!

 


Quando é possível acreditar que tudo já foi inventado, surge a realidade para provar o quanto a pós-modernidade brasileira é o próprio sanatório à céu aberto. Diante da epidemia de neuroses identitárias patrocinadas pelo capital, a Prefeitura de São Paulo inaugura um bizarro "Museu das Favelas". 

A idéia da promoção da miséria, que já era grotesca, se transforma em pastiche de carnaval emoldurada em um "museu". Porém, para ampliar o deboche com a vida humana, onde fica o local do surreal "museu" criado pela Prefeitura? Simplesmente, no histórico Palácio Campos Elíseos, situado na região central da cidade de São Paulo, ou seja, um palácio para entronar a miséria!

Trocando em miúdos, a exaltação das favelas é exposta em um palácio, materializando uma ironia escrachada de gritante perversão! Seria tresloucadamente cômico se não fosse um espelho da expressão explícita do pervertido fetichismo  cultural que embriaga cinicamente o Brasil. 

Desta forma, na lógica da insanidade identitária culturalista, o melhor lugar da cidade paulistana para se abrigar é na favela! Logo, as moradias precárias e miseráveis das favelas, onde perambulam insetos e ratos, falta de saneamento básico, ausência de infraestrutura, miséria e todo um sortilégio de violência e precariedade, por si mesmas, mereceriam ser "objetos" de contemplação imortalizados em um "museu cultural"!

A perversão capitalista transforma qualquer delírio neurótico, psicótico ou perverso em mercadoria de consumo. Inclusive, vale ressaltar, o "fetiche da miséria" que é palco constante de ostentação por parte de uma esotérica, irresponsável e festiva esquerda pós-moderna. Vale pontuar que o "fetiche da favela" é uma derivação deste "fetiche da miséria" turbinada com retórica de autoajuda para praticar o alpinismo social. Agora, tal alucinação fetichista foi também capturada e explorada pela oportunista e perversa direita e seus extremistas políticos e que, por sua vez, ocupam gestões administrativas, como é o caso da Cidade e do Estado de São Paulo. 

Ressalta-se que a atual onda de incessantes "'identidades" paridas pelo desejo narcísico individualista se transformou em um valoroso objeto amorfo de usufruto tanto de políticos e militantes da chamada "esquerda identitária", quanto da direita e extrema-direita: o populismo culturalista induz à alienação, visando atrair a atenção e os votos de segmentos inventados como se fossem mais os "descolados" e iluminados da população. Consequentemente, a onda identitária patrocinada pelo capital busca condicionar consumidores de melhor padrão de renda para fomentar novos e lucrativos nichos de mercado.

Diante da miséria cultural que alucina o cotidiano, a Prefeitura de São Paulo, mostra que, ao invés de mudar a realidade miserável de milhões de pessoas que sobrevivem em desumanas habitações precárias, simplesmente, ela sinaliza o contrário. Ainda com dados do antigo censo do IBGE (2010), estima-se que o número daqueles que vivem em favelas ou em condições de precariedade na cidade de São Paulo é superior a dois milhões de pessoas. Vale salientar que estes números estão desatualizados e, certamente, com o rolo compressor das cruéis políticas neoliberais dos últimos anos no Brasil, deve ter ampliado consideravelmente esta população marginalizada.

Com o perverso e patético "Museu das Favelas", o Poder Público, incentivado pelo capital, ajuda a difundir a ideologia neoliberal que busca alimentar a cultura do "empreendedorismo". Essa panaceia mirabolante é vendida como a solução mágica de "superação" da pobreza de forma egoísta e individual. Entretanto, esta mesma ideologia neoliberal oculta as raízes desta pobreza que resulta, diretamente, da brutal desigualdade sociopolítica capitalista. Sendo assim, a pobreza é embalada numa cínica e ignóbil "cultura periférica" sob a forma de um museu para uma classe média "descolada" visitar, sem culpa ou constrangimento, diante do mar da miséria paulistana. 

Não há equívocos nas benesses que a dominação imposta pelos donos do capital oferecem aos trabalhadores e aos descartados socialmente. Nunca pode-se esquecer que se trata de um sistema que precisa, incessantemente, movimentar o capital e a retenção de mais-valia diante da labuta dos trabalhadores. As lições de dominação ideológica e material do capitalismo mostram que, sistematicamente, não há limite para a perversão, exploração e exposição da miséria parida pelo próprio capital.

(Wellington Fontes Menezes)

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