Há um otimismo exagerado em algumas análises
que se nutrem da queixa do "cansaço da pandemia", acreditando que
todo o mal-estar gerado, trará um "mundo melhor", quando a humanidade
domesticar o novo coronavírus. Será possível acreditar em um "nirvana
pandêmico" de purificação da consciência humana, ou tudo acabará numa
volúpia hedonista de criança mimada?
Uma visão poliana seduz muitas das análises otimistas, mas não resiste muito tempo diante da realidade. Tudo parece ser promissor, se não fosse pelo fato de que o progresso não é linear e, tampouco, como se as estruturas sociais não sofressem diferentes impactos sistêmicos, de acordo com a região. Por outro lado, hedonismo sem recursos econômicos é como "praia de paulistano" com um vazio na carteira: visitar vitrine de "shopping center" sem poder comprar suas mercadorias.
Diante da realidade, se o vírus ataca a todos, nem todos tem os mesmos mecanismos de proteção. Europa, Estados Unidos, China e os ricos países asiáticos sairão das turbulências pandêmicas muito melhor, se comparados ao resto de mundo, na pós-pandemia.
O otimismo exagerado cria uma blindagem contra o senso crítico e as ilusões cavalgam sem destino. Da ansiedade na descoberta de vacina contra o vírus, chegou-se à guerra por seu acesso. A disparidade entre ricos e pobres segue fazendo o mesmo percurso conhecido: quem pode mais, vacina primeiro! Logo, vacinadas prioritariamente por terem recursos para pagar às grandes farmacêuticas, serão estas regiões que darão os primeiros saltos para a estabilização econômica. O resto do globo ficará com a xepa do que sobrar, se sobrar algo!
Neste sentido, nas localidades de maior desenvolvimento econômico, haverá uma demanda reprimida resultante do período de pandemia. Logo, diante da possibilidade de retomar o "velho normal", acenderá o consumismo e os desejos imediatistas. Assim os capitalistas e seus serviçais farão de tudo para atender de pronto a todos aqueles que tiverem recursos econômicos para trocar dinheiro por gozo irrefreável e ilimitado. Para a inflexível ordem do capital, tudo é bem claro: ou "money", ou nada!
No caso brasileiro, graças aos esforços devassos do desgoverno de Bolsonaro, teremos um saldo histórico em mortos por COVID-19, como sendo o mais genocida do mundo. No Brasil que vê destruída sua sociabilidade de forma avassaladora, há um descontrole que é um verdadeiro hospício do terror, com uma economia em recessão sem freio e um povo dividido entre os aplausos sádicos para o genocídio diário e a covardia coletiva aceitando passivamente a morte.
Da devassidão pandêmica ao suposto alívio pós-pandêmico, temos a clareza de que a humanidade continuará a ser o que sempre foi: fantasticamente brilhante quando os interesses se restringem aos egoísmos narcísicos e, por interesses do capital, leniente quando se trata de ampliar os horizontes solidários, referentes a um mundo por mais equidade socioeconômica. Porém, em detrimento de toda a realidade fratricida, há aqueles que preferem viver fazendo o desmedido uso do colírio do delírio civilizacional e do hedonismo como destino.
Para ler mais: https://brasil.elpais.com/cultura/2021-04-27/caminhamos-pros-novos-anos-loucos-de-hedonismo-pos-covid.html