sábado, 26 de setembro de 2020

O NARCISISMO COMO BANDEIRA POLÍTICA

 


Na onda do identitarismo, temos a política da representação de si mesmo. Basta ter uma história triste, alardear a estigmatização fetichista da cor ou gênero e um discurso sobre o empoderamento do ego. Pronto! Todas as mazelas sociais se reduzem ao patrocínio de uma "vítima da sociedade", sem nenhuma crítica substancial contra o capital ou dominação burguesa.

O discurso do ego, embalado no estratagema neoliberal, parece sempre empolgar mais do que o discurso das classes sociais, em um mundo domesticado pelo desempenho da personificação dos sujeitos. Parece pouco importar o posicionamento ideológico na política que, diante desta performance da egolatria, adquire adeptos, votos e admiração. Nesta lógica, o racismo e demais desigualdades sociais se travestem em uma "mercadoria" positivada e atuam como bandeira política de autopromoção: quanto maior o nível da desigualdade, maior a polarização social e a sedução de guetos eleitorais.

No ativismo das identidades, não há nenhuma preocupação em apontar as razões das desigualdades sociais, para o sujeito se apresentar como um "não incluído" no sistema de consumismo capitalista. Para uma maior tranquilidade da burguesia, o sentido das lutas sociais é deixado de lado em prol do individualismo narcisíco da representação do sujeito. Para os adeptos do discurso da representatividade, basta entronar um representante "étnico" ou de gênero, e tudo se transforma pela magia que produz a transmutação dos fetiches. O discurso da representatividade é reverberado com a performance de um  moralismo autoritário e do clichê caricatural do inimigo comum da representatividade culturalista neoliberal: o vilanesco "homem branco hétero".

Os partidos políticos, cada vez mais fragilizados e perdidos ideologicamente, são usados como catapultas de autopromoção de sujeitos que olham para a política como a galinha dos ovos dourados. Pouco importa o partido, se há espaço para a projeção pessoal, o sujeito se atrela como craca em parede de navio.

Para quem sabe lidar com um contexto de percepção da opressão estrutural brasileira, gritar aos quatro cantos que toda a sociedade é culpada da sua condição de uma determinada desigualdade nominal, por exemplo, o racismo, poderá ser um excelente estratagema, sem precisar se comprometer com nenhuma plataforma política e tampouco com a realidade, exceto com o próprio ego.

O discurso da vitimização seduz e auxilia a burguesia em um momento histórico no qual ela aposta as suas fichas em novos gerentes dos seus interesses. Diante da fascistização do discurso social, a representação performática das identidades neoliberais e o neofascismo ultraliberal, aparentemente são grupos antagônicos, mas operam com os mesmos estratagemas na defesa do discurso neoliberal e a uma projeção de falsos moralismos. No espetáculo da miséria da política, um Brasil afunda sem  encontrar o solo para ser amparado.

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