Quase todas as tentativas de explicação que surgem do campo de uma Esquerda, magnetizada pelo identitarismo, é de uma infantilidade atroz, quando se debruça sobre o fenômeno Donald Trump e do crescimento e popularização da Extrema Direita.
O maior equívoco é querer entender ou enquadrar o fenômeno Donald Trump ou, no caso de Pindorama, Jair Bolsonaro, como tragédias pontuais ou "acidentes históricos". Essas figuras nefastas representam muito mais elementos de continuidade e aprofundamento da agenda neoliberal do que pontos erráticos de inflexões ou ruptura no curso da mobilidade do capital.
Sem uma preocupação analítica, minimamente metodológica, essa Esquerda pós-moderna, anti-marxista, anti-intelectual e neoliberal trata este tema como fosse um mero problema de "moralidade binária raciológica": empoderadas "minorias" boas contra os racistas homens brancos maus.
Em uma guinda histórica, a Esquerda abandonou os trabalhadores e a luta de classes. Por sua vez, permitiu que a classe trabalhadora e os precarizados, órfãos políticos em tempos de devastação neoliberal, caírem nos braços da Extrema Direita.
Um fator que merece um grande destaque e motivo de ampla preocupação: a Extrema Direita se popularizou e consegue, atualmente ganhar as ruas em movimentos organizados. Do outro lado, esta mesma Esquerda que só pensa em guetos narcísicos, está recheada de inócuos artifícios: acusar de "racista" qualquer um que conteste sua teologia "antirracista"; uso da autoritária "cultura do cancelamento"; querer impor uma "língua neutra"; pregar o cotismo e o empreendedorismo como demagógicas "alternativas" ao desemprego estrutural e romancear supostas "minorias" sem nenhuma relevância populacional e dinâmica social. Todavia, nada que não seja dicotômico serve para esta Esquerda!
As urnas estadunidenses deram um sonoro repúdio contra a
ideologia "woke", encarnada na candidatura de Kamala Harris.
Aparentemente, na eleição estadunidense, mostrou-se um esgotamento das pautas
identitárias conduzidas pelo Partido Democrata de Joe Biden e Kamala Harris.
Sendo assim, fomentar a "guerra cultural" se tornou a obsessão
narcísica da "nova" Esquerda, sitiada pelas neuroses de uma classe
média descolada e pseudo-progressista.
A crise estrutural do capital gerou desemprego estrutural, desesperança e medo do futuro. O medo, a incerteza e a insegurança são as dores latentes que os trabalhadores convivem diariamente. Os trabalhadores assalariados não se sentem seguros e, o trator neoliberal está solapando todos os direitos (ainda sobreviventes!) dos trabalhadores. Contudo, nos Estados Unidos, Trump soube transformar todo este lamaçal existencial em votos!
No Brasil, a Esquerda perdeu o foco do sentido de sua existência. Quando oportunistas medíocres e irrelevantes como, por exemplo, Krenak, Evaristo Lacração, Sueli Carneiro, Djamila Ribeiro e Itamar Vieira, entre outros, são alçados na condução de "porta-vozes" da Esquerda, é um sintoma que ela atingiu o colapso ideológico e sucumbiu ao irracionalismo político.
Trump nos Estados Unidos e Bolsonaro no Brasil não foram meros "acidentes históricos", mas monstros excretados pela cloaca das condições históricas de um capitalismo cada vez mais selvagem e avassalador.
Os conceitos de Esquerda e Direita, hoje, na prática, só servem como referência de sinais de trânsito. O campo econômico se traduz na hegemonia da agenda neoliberal e, sob tal premissa, tanto a Esquerda quanto a Direta se convertem em fiéis súditos. Ambas operam em prol da financeirização do capital e do lucro estratosférico dos rentistas.
Tanto Trump ou Biden/Kamala, quando Bolsonaro ou Lula, jamais foram "contra o sistema". Pelo contrário, foram hábeis gerentes do capitalismo predatório a tal ponto que tanto Bolsonaro quando Lula são, amplamente, favoráveis que o Estado se mantenha com a independência do Banco Central. Cumpriu-se, portanto, a premissa de Hayek e Mises, dois grandes vultos neoclássicos do ultraliberalismo que recomendavam separar a Economia capitalista das decisões "intempestivas" da Políticas.
A agenda dos costumes se tornou o novo cabresto da Esquerda que é incapaz de sair da sedutora e traiçoeira armadilha das identidades. Kamala e Trump são faces da mesma moeda. Bolsonaro e Lula também. A retórica do falso dilema entre bons mocinhos e maus vilões apenas serve de entretenimento para uma plateia de ignorantes, desalentados, desesperados e famintos.
Sem romper com a lógica neoliberal, os Trump, Kamala, Bolsonaro e Lula da vida seguiram intactos ocupando os espaços de poder, gerenciando a exploração dos trabalhadores e destruindo a sociabilidade humana civilizatória.
(Wellington Fontes Menezes)
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